“Oooooooooopa! Oi!” A turista no calçadão dá um pulo para o lado e faz careta, ao pressentir que o “chope” vai ser derramado sobre ela.
É só brincadeira e tática de propaganda de Lucas Chaves, o Lico, vendedor da “pegadinha do chope”, uma daquelas tulipas com líquido de mentira para dar um susto nos amigos. No Réveillon, com a praia de Copacabana cheia de turistas, o brinquedo sai por R$ 50 ou R$ 30 a unidade, “dependendo do gringo”.
“Se está vestindo bandana, com mapa do Brasil na mão, é porque chegou hoje, e paga o preço. A gente já conhece as manhas todinhas. Se eu não vender, não como, meu cumpadre”, diz o vendedor. Em controversa “malandragem”, ele tem uma pequena ficha de plástico com os valores 50 e 30, e tapa um ou outro conforme a conveniência.
O aluguel das barracas e cadeiras de praia também aumentou (de R$ 3 e R$ 4 para R$ 5 e até R$ 10) e varia de acordo com o freguês. O comerciante Miguel Dionísio da Silva, 62, ofereceu a duas paulistas cadeiras por R$ 5 cada e uma barraca de sol por R$ 7, ao mesmo tempo que um auxiliar dizia que a barraca sairia por R$ 10 para duas mato-grossenses.
“Não era R$ 7?”, questionou Rose Moreira. “Ele se saiu bem e disse que me daria um ‘desconto’. Eles fazem pela cara do cliente”, disse ela, há dez dias no Rio com a amiga Célia Pestana.
Miguel atribui a elevação do preço de seus produtos à Prefeitura do Rio. “Eu tinha 170 cadeiras e 120 sombreiros, mas a prefeitura mudou as regras e passou a permitir só 80 cadeiras e 40 sombreiros. A culpa é da prefeitura. Aí o preço sobe”, explica. Embora seu ponto seja em frente ao Copacabana Palace, curiosamente, seu maior cliente não é o turista estrangeiro ou de São Paulo, mas dos vizinhos da Baixada Fluminense. “Ninguém gasta menos de R$ 50”, diz.
Quase todos ambulantes dizem o mesmo: neste verão, é o turista nacional que mais compra. “Os gringos pechincham muito. O brasileiro gasta muito mais”, conta o vendedor de biquínis cearense Marcelo dos Santos, cujos produtos subiram, em média 25%, neste mês.
Antônio Sérgio Silva, 37 – há 20 anos na praia de Copacabana, onde dorme diariamente, em uma barraca – começa o preço das camisas e cangas em R$ 30, R$ 5 a mais que em novembro. Como muitos ambulantes, é extrovertido e falante, inclusive em “inglês”. “Para vender a canga, eu digo três ‘ten (dez)’, quer dizer ’30’, ou two ten (dois dez, na tradução), mai fren (my friend, ou meu amigo). Mas muitas vezes eu vendo por R$ 15 ou R$ 10, no sufoco. Brasileiro é melhor de jogo, europeu é mão fechada.”
As piscinas e baldinhos de plástico de Antonio Farias, 60 anos de idade e 30 de praia, passaram de R$ 20 para R$ 25 neste verão. “Mas muitas vezes ainda vendo por R$ 20, para não perder o cliente”, conta.
Contra a maré e de olho no volume de vendas, o ex-cozinheiro Antônio de Lima manteve o preço dos tradicionais mate e biscoito de polvilho em R$ 2,50, apesar de muitos colegas já cobrarem R$ 3. O preço da água de coco passou de R$ 3 para R$ 3,50.
Ilma reajustou massagem, mas em 7%. “Não dá para acompanhar o Congresso, né?”
A massagem na praia também teve reajuste, embora mais modesto, de R$ 70 para R$ 75 (7%), disse a massoterapeuta Maria Ilda Bernardino, que trabalha com o marido, Paulo Bernardino. “Não dá para acompanhar o Congresso, né?”, brincou, em referência ao reajuste de 62% dos deputados e senadores.
No fim de ano, com os turistas ocupando 95% dos quartos da cidade prestes ao Réveillon de Copacabana, até as vagas de carros têm o preço inflacionado.
Um apart-hotel próximo à praia, com o cartaz “Reserve sua vaga!”, substituiu o sistema rotativo por hora pelo aluguel de vagas por 24h, a R$ 100. Uma vaga na noite da virada sai por R$ 200. Até em prédios residenciais, moradores de Copacabana alugam suas vagas, por até R$ 150 na noite do dia 31, quando as entradas do bairro ficam fechadas para carros a partir das 15h. “O valor da vaga se multiplica no dia 31, o pessoal mete a mão. E as pessoas pagam na hora. Vão deixar o carro novo na rua?”, pergunta Liotero Luiz da Costa.
Fonte: Raphael Gomide, iG Rio de Janeiro
Fotos: George Magaraia