Santa Morena do Lago Sagrado

Nossa Senhora de Copacabana

AS ORIGENS

Muito se têm escrito sobre a origem da palavra “Copacabana”, sobre a origem do bairro do mesmo nome, porém poucos, a não ser alguns cristãos têm o conhecimento que a devoção a Nossa Senhora de Copacabana é uma das invocações Marianas, mais antigas, na Cidade do Rio de Janeiro – ela tem mais de três séculos. Vinda dos Andes, no antigo vice-reinado do Peru, hoje Bolívia,  foi trazida por devotos anônimos, a virgem morena dos Aymaras e Quechuas.

A devoção Mariana, desde os primórdios da dominação espanhola na América, se mostrou como a principal arma que o Catolicismo tinha para a evangelização dos primeiros habitantes que desta forma após a entrada de Hernán Cortes em 1519 na cidade de Tenochtitlán – atual cidade de México, quando a dominação espanhola já era fonte de discórdias, castigos e saques – nos primeiros dias de dezembro de 1531, numa colina chamada Tepeyacac se apresenta pela primeira vez a imagem de uma santa a um índio de nome Juan Diego, e os missionários solicita que seja construída uma igreja naquele local sob o nome de Nossa Senhora de Guadalupe.

Tempos depois, quando Francisco Pizarro domina o Império Incaico em 1535,  e o povo indígena da América do Sul submetidos a coroa espanhola, acontece novamente a presença de Nossa Senhora nas terras do Reino do Peru, e as sucessivas aparições ao índio Francisco Tito Yupanqui, quando recebe a ajuda divina, minorando as grandes vicissitudes ao seu povo, que culmina com a feitura da imagem de barro de Nossa Senhora de Copacabana até a entronização em 1583 na Capela da sua pequena Cidade de Copacabana na Bolívia. Cuja fama, depois, ultrapassando a majestosa Cordilheira dos Andes atingiu a América Central, a do Norte, nas belíssimas praias cariocas, a Terra de Santa Cruz e praticamente toda a Europa católica.

Nossa Senhora de Guadalupe é um retrato de Nossa Senhora de Copacabana é a escultura viva. Dela; as duas são a primeira personificação de Nossa Senhora na América, a primeira em forma de pintura e a outra, a primeira como escultura. Ambas tem muitos traços em paralelo, são as primeiras após a Conquista espanhola, são do Século XVI, desde a época dos Impérios Azteca e Inca, infelizmente dizimados pela cobiça espanhola, o material principal é a madeira maguey, para uma um tecido efetuado com as folhas dessa planta, na outra esculpida num tronco, a única e principal diferença é que Nossa Senhora de Copacabana é a primeira imagem esculpida na América Espanhola por um nativo.

A VISÃO

Considerando que KJOPAC KAHUAÑA era o centro, a Meca espiritual do Império dos Incas, onde estavam os representantes de todas tribos que constituíam o império, dispostos a levar aos seus povos, a palavra sagrada do Pontifície Incaico e a fazê-la cumprir como mandato divino.

Antes magnifício Império onde não existia a miséria e a pobreza, sob a denominação espanhola começou a definhar, cada dia que transcorria era maior a miséria dos seus campos e maiores os motivos de desentendimentos entre seus moradores, pragas apareceram, o clima piorou, novas doenças se introduziram, os templos e palácios, após os saques ruíram e a população que era numerosa e de alta classe, começou a diminuir tanto que somente ficaram em Copacabana umas 200 almas envelhecidas, famintas, perseguidas e exploradas miseravelmente. Esta gente em incessantes rogativas clamava aos céus piedade ao seu tão triste destino, imprecações se misturavam à promessas contritas de purificação e penitência. Mas os Deuses estavam mudos….

Em 1581. segundo o relato do Almirante Horácio A. Ugarteche:

“Um dia, na hora do Angelus, quando Tito se encontrava na beira do Lago Sagrado, meditando, viu repentinamente num reflexo nas águas azuis, uma imagem coroada com a diadema dos Santos. Surpreso voltou o olhar para a terra e seus olhos tropeçaram poucos passos atrás, com uma formosa jovem incaica, sustentando no seu colo, amorosamente, uma criatura belíssima. Os últimos raios de sol incidiram misteriosamente na sua face, que era tão fina e tão tenra que poderia se assegurar que nunca esteve exposta à inclemência do cortante vento da puna altiplánica. Levava na destra uma vara de manto dos Hilakatas (Chefes), seu olhar, em angulo inferior, estava apontada em direção à Ilha do Sol e as profundezas do Lago, onde descansavam os Deuses e as vestais (virgens adoradores do Sol). Tito por sua vez voltou os olhos em direção  ao olhar da beldade inca, fitou as profundezas do lago e quando de novo voltou-se para avistar a misteriosa aparição, a jovem incaica tinha desaparecido como por arte de encantamento”

” Neste instante sentiu Franciso Tito Yupanki a solenidade do mistério. SIM! compreendeu de súbito a resposta a sua grande interrogante! A solução a sua quimera! O oniríco fim da sua fantasia! A resposta as suas preces era: “A imagem de uma Virgem do tipo racial incaico como a mensageira ideal, como Divina Portadora do Aleluia da nova religião para os seus irmãos de raça, os seus irmãos do novo mundo, aprofundados cada vez mais no ceticismo”.

Desde aquele dia Tito vivia com aquela egrégia visão, nas horas silentes, nos arbustos, nas nuvens do céu, nas pedras do caminho, enfim sempre a via em todas as partes, em todo lugar. Transformando a fé que iluminava sua alma em indomável penhor artístico entregou-se com ardente devoção à tarefa de modelar em argila a “Santa Morena do Lago Sagrado”, a “Mãezinha Candelária”, como carinhosamente a chamava.

Compilação de texto do livro Na Bolívia e No Brasil de José Luís G. Saavedra

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