Boite Vogue


Incêndio da Boate Vogue em 1955

Um dos grandes templos da noite carioca, o Vogue foi até o seu final o mais importante e refinado nigthclub da cidade. Todas as grandes estrelas dos anos 1940 e 1950 se apresentaram lá como contratadas: Dolores Duran que começou sua carreira no Vogue em 1946, Aracy de Almeida se apresentou em espetáculos noturnos entre 1948 e 1952, Linda Batista que foi uma das contratadas entre 1947 e 1952 sem deixar de citar Ângela Maria, Sílvio Caldas, Jorge Goulart, Inesita Barroso.

Apesar de pequena em tamanho físico, a casa do Barão von Stuckart, austríaco, na Avenida Princesa Isabel apresentava o excelente orquestra de negros importados dos EUA e, como outra marca registrada, o piano suave de Sacha Rubin que sempre saudava a chegada dos habitués com a canção preferida de cada um deles: Solitude para Jacinto de Thormes, Invitation para Lourdes Catão, Never let me go para Beki Klabin. Funcionou a partir de 1946, logo tornou-se ponto obrigatório das personalidades da époco sendo frequentado por Benjamin Vargas, irmão do presidente Getúlio Vargas, Teresa e Didu Sousa Campos, Lili e Horácio Carvalho, os Mayrink Veiga.

O incêndio do edifício onde funcionava o Vogue comoveu a cidade. Quando as emissoras deram as primeiras notícias, a população estava longe de prever que o sinistro assumisse proporções tão impressionantes. Casos verdadeiramente dantescos se passaram no interior do edifício, tomado pelas chamas. Foi uma luta desigual que se travou entre as poucas pessoas que tiveram a infelicidade de ficar retidas ali dentro e o fogo. Espantados pelo imprevisto da tragédia, entregues à própria sorte, vendo barrados os meios normais de abandonar o prédio, as vítimas tudo fizeram para salvar-se. Lutaram contra as colunas de fogo que marchavam na sua direção.

O Globo – 15 de agosto de 1955

Terminou, ontem, uma etapa da vida noturna carioca. Terminou com o incêndio do Vogue e a morte de Valdemar e Glorinha Schiller. Este cronista, ontem, de manhã, ceava em compania de Lúcio Schiller, quando Valdemar e Glórinha subiam ao seu apartamento. Houve o seguinte diálogo:

LÚCIO – Valdemar, sente-se comigo vamos tomar uma taça de champanhe.

VALDEMAR (olhando o relógio) – Não posso porque, amanhã, vou pegar o primeiro páreo do Jockey.

Era a última vez em que víamos Valdemar e Glorinha. Não sabíamos que estávamos na véspera – eles da morte e nós do sofrimento. Em seguida deixamos a boite para sempre.

No início da década de 1950, o Vogue contratou uma cantora francesa chamada Patachou, que tinha por hábito sentar-se no colo dos senhores enquanto cantava e cortar-lhes a gravata com uma tesoura. Certa vez, o agraciado era o dr. Fábio Barreto, neto do ex-presidente Antônio Carlos e futuro procurador da república. Já bêbado, ele recepcionou Patachou abrindo a braguilha, expondo o membro viril e desafiando a cantora a cortá-lo em vez da gravata. Como ela, não se fazendo de rogada, encaminhasse a tesoura em direção à genitália do doutor, ele mais que depressa recolheu-a, sob apupos gerais.

Ao contratar, ainda na década de 50, os serviços da então famosa Boate Vogue do Rio, a VARIG apostava na alta gastronomia como parte essencial de uma viagem prazerosa. Em 1955, quando os Super Constellation inauguravam uma linha para Nova York, que iguaria fez mais sucesso a bordo? Foi uma entrada, Bitock de Volaille, do Vogue.

Aconteceu que, no domingo 14 de agosto de 1955, à tarde, a boate Vogue pegou fogo. Dois homens, em desespero, atiraram-se do prédio onde funcionava a boate.

Com o Vogue terminou uma era da vida noturna carioca. Outra virá, mas será outra, sem o Vogue. Queimou-se o piano que fora de Sacha, que passou às mãos de Fats Elpídio, Chaim, José Maria e Carlinhos, mas ficarão as canções das noites do Vogue. “C´est magnifique”, “Unforgettable”, “I`ve Got You under my skin”, “Because of Rain”… tantas na voz de Louis Cole, que hoje está perdido na rua, aturdido, como um bêbedo, como um fantas. Acabou-se o Vogue exatamente quando o cornetim dos bombeiros tocou o “fogo extinto”.

Antonio Maria

A tragédia do cantor norte-americano Warren Hayes, uma das cinco vítimas do incêndio do Vogue, causou emoção tão profunda como aquela do casal Schiller. pois a radiante mocidade e de certo um não menos brilhante futuro eram apanágio dos três. Warren teve o seu apartamento quase respeitado pelas chamas. mas o calor foi intenso, realmente abrasador, alucinando o rapaz, que, segundo a autópsia, morreu em virtude de extensa queimadura, fazendo-o preferir o salto no espaço. A tragédia do Vogue deve constituir a última advertência no sentido do reaparelhamento urgente, inadiável, imperioso do Corpo dos bombeiros.

O Globo, 16 de agosto de 1955

Do portal Copacabana.com

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